Perceber que o encontro entre terapeuta e cliente é o essencial do processo terapêutico ressignifica e reafirma a minha crença numa psicologia mais humanizada, mais real e mais inteira.
O entre é o espaço da confiança existencial entre duas pessoas e, portanto, é o espaço onde terapeuta e cliente irão construir o vínculo terapêutico. E, é neste espaço que acontece a relação, seja a relação Eu-Tuou a relação Eu-Isso.
Para Lynne Jacobs (1997), não há um “Eu” que permaneça só, mas somente o Eu do Eu-Isso e o Eu doEu-Tu. Existe uma alternância entre esses dois modos de existência. O modo Eu-Isso é vitalmente necessário para a sobrevivência e o Eu-Tu para a realização da condição como pessoa.
O terapeuta humanizado
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas. Mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.
(Carl Gustav Jung)
Quando pensamos que o terapeuta também é, antes de tudo um ser humano no mundo, um ser de relação, um ser com necessidades individuais, temos ainda mais a certeza de que o primeiro passo para o encontro com o cliente, é o encontro do terapeuta consigo mesmo. E este é um caminho para toda a vida, mas muito mais essencial no começo de nossa profissão e de nossa atuação como terapeutas.
É preciso mergulhar em seu próprio mundo antes de entrar no mundo do cliente, pois ao faz este último seremos, inevitavelmente, afetados por sua experiência.
O amor (é) terapêutico
O encontro e não o terapeuta tem o poder de curar. A essência deste encontro envolve a capacidade de integração e diferenciação do terapeuta.
Beatriz Cardella (1994) acredita que essa capacidade do terapeuta de integrar-se e diferenciar-se, permite a aceitação e o encontro com o cliente como ser único, diferenciado e semelhante na condição de ser humano e, portanto, é a manifestação do amor terapêutico.
Concordo com Cardella quando ela afirma que o amor é terapêutico por natureza. Para Johnson (apud Cardella, 1994):
“…o amor não é algo que faço, mas algo que sou; o amor não é um fazer, é um estado de ser”.
Um indivíduo em estado de amor favorece o crescimento daqueles com os quais se relaciona. A atitude amorosa do terapeuta permite ao cliente tornar-se “aware” dos próprios medos, dificuldades e manipulações.
A ingenuidade terapêutica
Conforme Gary Yontef (1998), para entrar no mundo do outro e não desonrá-lo, um terapeuta fenomenológico o coloca em parênteses, isto é, põe de lado as perspectivas em que ele mesmo vive. O terapeuta deve ser capaz de suspender os seus pressupostos e estar a serviço do cliente.
E é por isso que acredito tanto na Gestalt e no modelo fenomenológico-existencial no qual o terapeuta está “ingenuamente” sempre a conhecer. Por outro lado, este é um modelo que nos traz mais riscos, pois antes do conhecimento vem a relação.
“E se é esse modelo que me faz estremecer de medo como psicoterapeuta já que me obriga a encarar de frente o peso, a responsabilidade e a ousadia de ser psicoterapeuta sem crer na “posse” de conhecimento algum, é também ele que me tem permitido caminhar com meu cliente, com todos os riscos e cuidados, confiando na qualidade de nossa relação”.
(Fátima Barroso)
Acredito que o compromisso que temos com o cliente ultrapassa o conhecimento ou a técnica. Por isso é preciso estarmos inteiros, presentes, atentos, livres de pré conceitos e pré julgamentos. É preciso estarmos no aqui e agora, a serviço do cliente.
“Eu o escuto como uma criança que apanha uma concha grande na praia e a leva ao ouvido, fascinada.
Não tenho pressa e ouço atento.
E, quando eu me livro do meu desejo de curar, e quando eu me livro de todo e todos desejos, eu escuto um oceano.
Parece novo e familiar e eu sinto prazer.
Esse é o porquê de eu ser terapeuta.
Isso não acontece sempre.
Prá acontecer, eu tenho que estar livre de ruídos.
Quando acontece, vejo que não perdi a Graça.
Um dia eu vou ser outro para o meu cliente.
Vou ser concha.
Ele vai me levar ao ouvido e me ouvir livre de ruídos.
Aí, ele vai escutar oceano.
Novo e familiar.
Estranho e conhecido.
Ele vai sentir prazer.
Quando dois oceanos se escutam, a terapia se acaba.
Cliente e terapeuta terão alta.”
(Sergio Zlotnic)
É isso que mais me apaixona nessa profissão.
Sejamos todos conchas!
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Com amor,
Fonte: Spontaneum/Tatiane Guedes
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